Mais que Cansaço: a Asfixiante Realidade do Burnout e a Desigualdade de Gênero no Ambiente de Trabalho
Por Jaqueline Costal
Tempo de leitura: 7 minutos
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Certamente você já se deparou, ou até mesmo vivenciou, a angústia do estresse desenfreado no ambiente de trabalho. As dinâmicas modernas têm desencadeado uma avalanche de sobrecarga, muitas vezes entrelaçada com episódios de assédio.
O assédio moral ocorre quando uma pessoa é submetida a comportamentos abusivos no ambiente de trabalho, como palavras, gestos, ameaças ou outras formas de intimidação que se repetem constantemente.
A competição acirrada no mercado de trabalho, combinada com a exigência de performances inatingíveis, gera uma busca incessante por reconhecimento e um sentimento crônico de insuficiência.
Esses sentimentos são amplificados por “gurus do desenvolvimento” que vendem a ilusão de riqueza e sucesso extraordinário, quase como uma fórmula mágica de mera mudança comportamental, cuja promessa é a de que todo o sofrimento será um dia recompensado com ganhos extraordinários.
Essa mentalidade favorece as empresas em sua busca insaciável por lucros crescentes, expondo funcionários a situações de assédio e perseguição, culminando em um aumento vertiginoso nos casos de ansiedade e depressão.
Uma consequência extrema da sobrecarga e do ambiente tóxico de trabalho é o burnout, ou síndrome do esgotamento profissional, reconhecida como doença ocupacional pela OMS em 2022 e pelo Ministério da Saúde em 2023. Burnout, que pode ser traduzido como "queimar completamente", foi assim denominado pelo psicanalista estadunidense Herbert Freudenberger, após identificá-lo em si mesmo nos anos 1970. É uma doença mental caracterizada por tensão, ansiedade e estresse crônicos, afetando todas as esferas da vida do indivíduo, especialmente em ambientes de trabalho desgastantes física, emocional e psicologicamente.
O Brasil é o segundo país no mundo com maior incidência dessa síndrome, ficando atrás apenas do Japão.
Uma pesquisa da ISMA-BR (International Stress Management Association no Brasil) de 2018 estimou que 72% da população brasileira sofre de algum nível de estresse, e 32% desses têm a Síndrome de Burnout. O Brasil é o segundo país no mundo com maior incidência dessa síndrome, ficando atrás apenas do Japão.
O assédio moral ocorre quando uma pessoa é submetida a comportamentos abusivos no ambiente de trabalho, como palavras, gestos, ameaças ou outras formas de intimidação que se repetem constantemente. Essas ações podem causar constrangimento, humilhação e afetar negativamente a saúde mental e física da vítima. Muitas vezes, é difícil para o trabalhador nomear ou identificar essas agressões, pois elas podem ser sutis e veladas. O assediado frequentemente se sente diminuído e acuado, optando por permanecer em silêncio por medo das consequências.
É fundamental reconhecer e combater esses problemas no ambiente de trabalho para promover a saúde e o bem-estar dos funcionários. A busca por um equilíbrio saudável entre vida pessoal e profissional, a criação de um ambiente de apoio e o estabelecimento de limites claros são essenciais para prevenir o estresse crônico e suas consequências devastadoras.
SÍNDROME DE BURNOUT E DESIGUALDADE DE GÊNERO
Uma pesquisa realizada pela plataforma Linkedin com cerca de 5 mil estadunidenses revelou que 74% das mulheres entrevistadas estavam muito ou razoavelmente estressadas por motivos relacionados ao trabalho, em comparação com apenas 61% dos empregados do sexo masculino.
Outra pesquisa, encaminhada pela empresa de consultoria Great Place to Work e da startup de saúde Maven revelou que mães com empregos remunerados têm 23% mais chances de sofrer de burnout que pais empregados.
Segundo especialistas, a maior propensão de mulheres à Síndrome de Burnout envolve diversos fatores. Entretanto, a estrutura social altamente desigual em relação às condições de trabalho e à remuneração desempenha um papel bastante significativo. Não podemos esquecer da sobrecarga do trabalho invisível, muitas vezes desempenhado pelas mulheres, como já discutimos aqui.
Em 2018, a Universidade de Montreal acompanhou 2.026 trabalhadores por quatro anos e descobriu que as mulheres são mais vulneráveis ao burnout devido à menor chance de promoção, o que as coloca em posições de menor autoridade, que podem levar a um maior nível de estresse e frustração. Elas também enfrentam mais responsabilidades familiares, domésticas e têm menor autoestima, agravando o esgotamento.
Essa realidade é ainda mais preocupante para mães. Isso porque, além da jornada de trabalho extensa, ainda precisam lidar com responsabilidades desiguais com a casa, filhos e com a família, produzindo maiores níveis de cansaço, pouca qualidade de vida e de sono, resultando em mais estresse e cobrança.
E o custo disso é altíssimo!
A empresa estadunidense de pesquisa Gallup calcula que o baixo engajamento dos funcionários, indicativo de burnout, representa um custo econômico significativo: cerca de US$ 8,8 trilhões de dólares, correspondendo a 9% do PIB global.
No entanto, o dano não é apenas econômico. No caso das mulheres, a péssima saúde mental no trabalho pode desencorajar futuras gerações, agravando as desigualdades de gênero. Durante a pandemia, momento de grande agravamento das taxas de burnout, sobretudo entre mulheres, menos mulheres se consideraram altamente ambiciosas em suas carreiras, especialmente as mães, que enfrentaram desafios adicionais com o trabalho híbrido.
Basta de sofrer em silêncio! Você não está sozinha!
Se você está enfrentando sobrecarga no trabalho, assédio ou burnout no trabalho, saiba que seus direitos te protegem e você não precisa passar por isso sozinha.
Para orientações ou assessoria jurídica, entre em contato pelo e-mail: costal.jaqueline.adv@gmail.com ou WhatsApp 11 96599-8881.
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Referências
CAPELATTO, Ivan Roberto. O Assédio Moral, o Assédio Sexual e a Síndrome do Burnout na ambiência do trabalho. Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, n. 37, 2010. Disponível em: https://bdjur.stj.jus.br/jspui/bitstream/2011/41708/assedio_moral_assedio_capelatto.pdf. Acesso em 7 jun. 2024.
COX, Josie. Por que mulheres sofrem mais de síndrome de burnout do que homens. BBC Worklife, publicado em 11 out. 2021. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-58869558. Acesso em: 9 jun. 2024.
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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ. Guia Prático sobre a Síndrome de Burnout. Piauí, 2020. Disponível em: chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://www.mppi.mp.br/internet/wp-content/uploads/2020/09/Ebook_Guia-pra%CC%81tico-sobre-a-Si%CC%81ndrome-de-Burnout-2.pdf. Acesso em 07 jun. 2024.
MOSER, Carolina Meira. Síndrome de Burnout e a Saúde da Mulher. InformAção Saúde DPS, 4 jul. 2022. Disponível em: https://www.ufrgs.br/das/sindrome-de-burnout-e-a-saude-da-mulher/. Acesso em 09 mar. 2024.
SOUZA, Amanda Cristina & Oliveira, Ariete Pontes de. Síndrome de Burnout como Consequência do Assédio Moral Organizacional. Revista Científica Doctum Direito. Disponível em: http://revista.doctum.edu.br/index.php/DIR/article/view/362. Acesso em 07 jun. 2024.
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