Você já parou para pensar nos sinais ocultos que podem indicar uma situação de abuso? A verdade é que a violência doméstica muitas vezes se esconde por trás de sorrisos e gestos de amor. Mas não se engane, há pistas sutis que revelam a verdadeira natureza desses relacionamentos.
A violência doméstica segue um padrão comum conhecido como ciclo da violência. Este ciclo ocorre em três fases distintas que se repetem: aumento da tensão, atos de violência e período de "lua de mel". Durante esse período, a mulher pode sofrer vários tipos de violência, incluindo física, moral, psicológica, sexual e patrimonial, que podem ser praticadas de maneira isolada ou em conjunto e, muitas vezes, sem que essa vítima perceba plenamente a situação.
Lenore E. Walker, psicóloga norte-americana, foi a pioneira na identificação desse padrão de comportamento dos agressores, após entrevistar mais de 1.500 vítimas de violência doméstica na década de 1970[1].
Os relacionamentos abusivos se iniciam de forma semelhante aos outros, com o casal se apaixonando e criando um forte vínculo. No entanto, desde o início, há sinais preocupantes. Em geral, esse tipo de relacionamento se torna bastante sério em pouquíssimo tempo e há um crescente controle e manipulação do parceiro sobre o comportamento e os relacionamentos da mulher[2]. Esse controle é facilmente confundido com amor e cuidado, sobretudo porque a nossa cultura propaga a ideia de que o poder, o controle e a força masculinas são atributos desejáveis, e o ciúmes uma demonstração de afeto.
Aos poucos, há um isolamento da vítima, que é manipulada para regular o seu próprio comportamento e a se sentir culpada pelo comportamento abusivo do parceiro.
Há um ideário de que relacionamentos abusivos são facilmente percebidos e de que a mulher permanece inserida nessa dinâmica porque “gosta”, mas a verdade é que há uma manipulação psicológica constante e muitas vezes imperceptível. A mulher aos poucos tem a sua autoestima rebaixada, é chantageada, sofre ofensas verbais, acusações, desprezo, ironia, ameaças veladas e humilhações constantes, que muitas vezes são feitas em tons de brincadeira e de críticas maldosas, apresentadas como “críticas construtivas”[3].
Os relacionamentos abusivos se iniciam de forma semelhante aos outros, com o casal se apaixonando e criando um forte vínculo. No entanto, desde o início, há sinais preocupantes.
A violência física nem sempre está presente, tornando a violência menos evidente, mas nem por isso menos nociva. O Professor de Psiquiatria do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFMG, Rodrigo Nicolato, ouvido pela Rádio Saúde com Ciência[4], afirma que relacionamentos abusivos podem ter sérios impactos na saúde mental das vítimas, como depressão, ansiedade e crises de pânico. Além dos efeitos psicológicos, é comum que as vítimas apresentem sintomas físicos, como dores de cabeça, indisposição, mal-estar, náusea ou até mesmo alterações de hormônios e proteínas, que se assemelham a sintomas gripais.
Ao notar algo de errado e tentar conversar com o parceiro, a mulher é frequentemente desacreditada, manipulada, culpabilizada, tem seus sentimentos e sua sanidade mental questionados. Isso pode levá-la a duvidar de si mesma. É muito mais fácil minimizar os abusos emocionais, ainda que sejam igualmente graves e a porta de entrada para os demais abusos.
Mesmo quando a vítima está ciente do que está acontecendo, é comum ela se submeter às regras do agressor, muitas vezes por dependência financeira, medo de ser abandonada ou maltratada, ou de ter sua privacidade violada, sobretudo quando há filhos envolvidos. Além disso, os períodos de “lua de mel” que se seguem às explosões de violência tornam a situação ainda mais confusa, fazendo com que a vítima acredite que o parceiro pode mudar, ou que ela mesma pode mudar ou encontrar maneiras de lidar com a situação.
...relacionamentos abusivos podem ter sérios impactos na saúde mental das vítimas, como depressão, ansiedade e crises de pânico. Além dos efeitos psicológicos, é comum que as vítimas apresentem sintomas físicos, como dores de cabeça, indisposição, mal-estar, náusea ou até mesmo alterações de hormônios e proteínas, que se assemelham a sintomas gripais.
A baixa autoestima que surge ou que é reforçada nesse tipo de relacionamento torna ainda mais desafiador para a vítima dar um fim definitivo à situação.
Portanto, é fundamental reconhecer os sinais de abuso e buscar apoio para proteger sua segurança e bem-estar. Juntos, podemos trabalhar para criar comunidades mais seguras e livres de violência doméstica.
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Referências
[1] Instituto Maria da Penha. WALKER, Lenore. The battered woman. New York: Harper and How, 1979. Disponível em https://www.institutomariadapenha.org.br/violencia-domestica/ciclo-da-violencia.html. Acesso em 28 mar. 2024.
[2] Polato, Amanda. Entenda o ciclo do relacionamento abusivo. Pesquisas já identificaram que agressores de mulheres seguem um padrão de comportamento que é universal. O relacionamento costuma começar como todos os outros, mas depois se alterna entre momentos de tensão, violência e reconciliação. Saiba como são essas etapas e como romper o ciclo. G1. 06 mar. 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/dia-das-mulheres/noticia/2022/03/06/entenda-o-ciclo-do-relacionamento-abusivo.ghtml. Acesso em: 28 mar. 2024.
[3] SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA SOCIAL. Governo do Estado do Ceará. Violência psicológica: a sutileza da prisão sem grades. 07 ago. 2021. Disponível em: https://www.sspds.ce.gov.br/2021/08/07/violencia-psicologica-a-sutileza-da-prisao-sem-grades/. Acesso em 28 mar. 2024.
[4] Relacionamentos abusivos podem originar fadiga, dores locais e alteração de hormônios. Em entrevista ao Saúde com Ciência, especialista afirma que as consequências físicas do abuso podem se assemelhar a sintomas gripais. 29 DE NOVEMBRO DE 2022. Disponível em: https://www.medicina.ufmg.br/relacionamentos-abusivos-podem-originar-fadiga-dores-locais-e-alteracao-de-hormonios/. Acesso em 19 mar. 2024.
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